É crescentemente visível a valorização que é feita à singularidade; contudo, a criatividade, enquanto uma porta para o conhecimento e individualização é comumente ignorada. Na verdade, o futuro não é previsível. Não sabemos o que nos espera enquanto indivíduos – e menos ainda enquanto sociedade – o que se sobremonta à ideia de que, mais do que nunca, nos encontramos num mundo que evolui a grande velocidade, pelo que impera ajudar as crianças a descobrirem-no e a planear a melhor forma de se guiarem pelas rotas que se encontram disponíveis (e pelas rotas ainda por descobrir).
Assim sendo, tão importante como as competências de caráter mais técnico, normalmente mais trabalhadas junto das crianças, surge a criatividade enquanto um ótimo complemento para o sucesso (desde já, com várias definições e, concomitantemente, com vários caminhos para a ele chegar). É aceite que a criatividade possibilita que se dê uma emancipação mais breve das crianças; isto é, para cada problema/situação com que nos deparamos, o nosso cérebro vai traçando diferentes caminhos, pelo que, quanto mais é estimulado, mais caminhos se formam e mais fácil se torna encontrarmos soluções sozinhos.
Além disso, surge a questão da formatação: quer-se as crianças mais plenas e menos presas, capazes de desconstruir o mundo que as rodeia, utilizando cada vez menos “caixas” para atribuir sentido às coisas – e a si próprias. Neste sentido, importa centrar, o mais possível, a criatividade no processo do conhecimento, e importa que se dê uma valorização especial às formas originais de pensar.
Partilhar ideias, fomentá-las e trabalhá-las é equipar as crianças com o necessário para o seguir dos seus sonhos – o que sempre lhes há sido recomendado toda a vida – assim como para se tornarem adultos mais próximos do conhecimento e, portanto, capazes de, realisticamente, formular soluções com uma maior autoconfiança – que da criatividade também pode florescer. Na verdade, a própria forma como (permitimos que) as crianças se expressem (através da roupa, forma de falar) pode ajudar a que tenham mais facilidade em dar sentido às suas emoções, assim como a aliviar a pressão (das “caixas”) que podem sentir em consequência do dia-a-dia.
Finalmente, pode dizer-se que as crianças são “moldáveis” e que é possível construir nelas quem quisermos, mas o mais importante e desejável é que elas tenham a liberdade de explorar quem elas realmente são, para que o possam, simplesmente, ser. Destarte, confiar nas crianças e deixá-las trabalhar de forma mais (cri)ativa possibilitará que sintam mais alegria e satisfação, e torná-las-á, finalmente, em adultos mais bem desenvolvidos, capazes de viver no momento, ainda que com consciência de que o futuro se constrói do agora.
Eliana Lage